A socialização política

Artigo escrito por: Laura Sousa

O termo socialização refere-se ao modo como os valores políticos são criados e como a cultura política é transmitida de uma geração para a outra.Sendo necessário mencionar três pontos importantes acerca desta socialização.

Primeiro, a socialização pode ser directa ou indirecta. Directa, quando existe uma explícita comunicação de valores, sentimentos e informação sobre política. Indirecta, quando as perspectivas políticas são moldadas digamos de modo quase inconsciente, através da experiência de cada indivíduo (exemplo, acontece mais frequentemente, durante a infância e adolescência, através da família, professores…).

Segundo, a socialização vai se fundamentando ao longo da vida de cada indivíduo. Se a infância e a adolescência criaram valores iniciais, a experiência que um individuo obtém ao longo da sua vida, também irá criar ou aprofundar valores. Podendo obter experiência através do emprego e desemprego, quando começa a fazer parte de novos grupos sociais, e sobretudo quando num período de crise económica, a imigração é para si inevitável. Tudo isto, abalará a nossa postura face à política.

Terceiro, a socialização pode representar padrões de unificação ou divisão. Constata-se uma união quase similar da nação, quando existe um conflito internacional ou quando se perde uma figura pública de grande popularidade. No entanto, na sociedade existem também as subculturas, que podem possuir os seus próprios padrões, existindo grupos fortemente enraizados num determinado bairro, e por vezes com escolas próprias, queiram surtir na sociedade um diferente impacto.

Agentes
Os indivíduos são influenciados pelos chamados agentes de socialização política, simplificando são as organizações e instituições que de alguma maneira influenciam as atitudes políticas. Exemplos destes agentes são:

Família
A família representa o primeiro contacto que estabelecemos a nível social, influenciando-nos directamente ou indirectamente. Quando a criança participa de alguma forma na tomada de decisão no seu agregado familiar, aumenta o seu sentido de competência política. Caso o contrário suceda, esta terá um papel de sujeito político, e não de objecto político. As mudanças que têm vindo a acontecer ao nível da igualdade de género no campo profissional e educacional, têm aumentado o impacto da família neste processo de socialização.

Escola
A escola providencia conhecimento sobre o papel do indivíduo no mundo político, e sobre o funcionamento desse mundo. Sendo também uma forte fonte de transmissão das atitudes e valores da sociedade em questão.

Estas podem seguir duas vias, a do fortalecimento do afecto para com o sistema político, através do uso de símbolos comuns a toda a sociedade (como a bandeira), que fortifica um sentimento de união dentro da nação. No entanto alguns sistemas educativos não pretendem unficar a socialização política, antes pelo contrário, pretendem sustentar as diferenças entre os diferentes grupos da sociedade (exemplo, África do sul e a sua cultura apartheid).

A educação é essencial para a criação e desenvolvimento das aptidões politicas dos indivíduos. Um indivíduo mais informado está mais consciente do verdadeiro impacto que o governo tem na sua vida, não se limitando a ser apenas um receptor apático, mas sim um receptor activo e por vezes catalizador de novas acções.

Instituições religiosas
Instituições religiosas são como portadoras dos valores morais e culturais para determinados grupos, que na maioria das vezes representam implicações políticas. Os líderes religiosos vêem-se como professores, que através dos seus seguidores tentam moldar a socialização da criança, através das escolas e dos actos relacionados com a prática religiosa.

Esta perspectiva não seria tão preocupante, se não persistisse a existência de tantos governos subordinados pela religião. Que através de rígidos códigos morais, e de em alguns casos através de fundamentalismos religiosos agressivos (que definem o mundo, como um local onde os crentes devem participar na luta entre o bom e o mal) fomentam uma severa luta contra a socialização, existindo em algumas nações subculturas religiosas que se opõem ao próprio estado e às suas políticas.

Representando as instituições religiosas guias éticos e morais que a maioria dos indivíduos necessita nas suas vidas, estas tornam-se relevantes na escolha política dos indivíduos.

Grupos de pares (Peer groups)
Estes grupos são unidades sociais que influenciam as atitudes políticas. Exemplos de grupos de pares são fraternidades universitárias, amizades e até pequenos grupos de trabalho. Os membros destes grupos partilham opiniões iguais sobre vários assuntos. Os seus membros são motivados ou por vezes pressionados a aceitarem a ideologia do grupo. Os indivíduos seguem os passos do grupo, mudando por vezes os seus interesses próprios e comportamentos, de forma a serem aceites pelo grupo (contudo, isto não acontece com todos os indivíduos).

Classe Social e género
Actualmente ainda existem muitas sociedades, em que os indivíduos vivem em diferentes mundos sociais, consoante a sua classe ou a sua ocupação. Cada indivíduo identifica-se como membro de um determinado grupo, onde possuem pontos de vista políticos divergentes.

Ao nível do género, a ideia pré-concebida de que os assuntos políticos eram exclusivos para os homens, interessando-se as mulheres pelos assuntos familiares e sociais, está em contínua mudança. Se por um lado nos países em desenvolvimento esta ideia ainda persiste, nos países desenvolvidos as mulheres têm-se tornado mais activas no campo político.

Mass Media
Actualmente não existe quase nenhum lugar no mundo, onde os seus habitantes não possuam aceder à informação sobre algo que está a acontecer em outro ponto do globo, num preciso momento. Os mass media podem transcender divisões ideológicas e barreiras físicas.

Geralmente, os media apresentam informação que de alguma forma mais se identifica com a sociedade em que estão inseridos, ou seja, sobre o que a sociedade está realmente interessada. Por isso, os mass media tornam-se um forte trunfo para os governos autoritários, pois estes utilizam estes canais para moldar as crenças políticas da população. Contudo, os cidadãos ao darem mais ênfase às suas próprias experiências combatem esta tentativa de manipulação por parte dos seus governos.

Grupos de interesse
Associações, grupos económicos e outras organizações similares afectam as atitudes políticas. Nos grupos económicos, temos o exemplo das uniões de comércio, que possuem uma forte influência na área política. Estas uniões, nos países industrializados chegam mesmo a influenciar a criação de novos partidos.

Estes grupos conquistam a lealdade dos seus membros através da defesa dos seus interesses. Providenciam “pistas” políticas aos seus membros, fomentando distintas orientações políticas e sociais. Utilizam os media para informarem o público sobre questões relacionadas com a sociedade, economia e política.

Partidos Políticos
Os partidos políticos têm um papel importante na socialização política, estando constantemente a moldar preferências e a procurar novas questões para mobilizarem mais apoio (informam os eleitores através de mail, telefone…). No ano que se realizam as eleições, estas representam não só o direito ao voto, mas também representam lições cívicas, onde os partidos são os professores.

No entanto, quando existe uma forte competição entre partidos, ao aumentar os esforços para a obtenção de mais votos, tende-se a apelar ao que determinados grupos têm em comum, como a língua, classe e religião, o que enfatizará as diferenças entre os vários grupos.

No caso dos governos autoritários, a combinação de um único partido com o controle dos mass media, torna-se um meio quase infalível para se impôr uma única ideologia inerente a toda a sociedade.

in Almond, Powell, Strom, and Dalton, Political Culture and Political Socialization.

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